Lar
Na copa da floresta o tempo tece...
Tece um ralo de sonhos a que molha...
Frémitos largos, cor do sol que desce
Boémio e loiro sobre cada folha.
Musgo no pé do que subiu mais alto.
A lenta e certa maldição dos limos...
Quem se liberta na ilusão de um salto,
Paga na terra a solidão dos cimos.
Porque a frescura do telhado verde
Tem um calmo destino:
Cobrir quem é de casa e se não perde
Nas malhas do seu sono de menino.
Gerês, 26 de Julho de 1945
Antologia
Extractos relativos a Terras de Bouro
(1999). Ed. Câmara Municipal de TB
Génesis
Ah, beleza encontrada
Deste painel de montes, céu e água,
Que o acaso pintou
Com cega brutalidade,
E deixou
Na pura exactidão que exige a eternidade!
Gerês, 12 de Setembro de 1970
Repouso
Paz das alturas, evasão furtiva
Da inquietação rasteira.
Aprazível clareira
Na floresta do tempo penitente.
Branca serenidade passageira
Onde tudo é sereno eternamente.
Um pequeno descanso refratário
De ser homem.
Pousei o meu carrego.
A cavalo na terra, olho-a de cima,
Fugido à força de atracção que anima
O seu desassossego.
Gerês, 14 de Agosto de 1961
Orografia
Fragas da serra duras testemunhas
De acusação do tempo, Orfeu cansado
Que descarna os poemas e os desdenha.
Cada perfil ossudo debruçado,
Sobre o abismo a que vive condenado
E onde o próprio silêncio se despenha.
Gerês, 8 de Agosto de 1953
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