sexta-feira, junho 13, 2008

120 anos de Pessoa

O pouco tempo que há da curta idade
Não basta para havermos a verdade.
Melhor sob ramos múrmuro ser bêbado
Num sono de que o sono é só metade.

Ciência pesa, consciência dessossega.
A arte é manca, a fé longínqua e cega.
A vida tem de ser vivida, e é inútil.
Bebe, que a caravana nunca chega.

Quantas fés, ou por bêbado ou por poeta,
Criei, na minha solidão completa!
Hoje não tenho fé, nem descrença.
De que fé nova é este tédio a seta?
(...)

4.10.1932
Fernando Pessoa
Canções de Beber

Sem comentários: