O pouco tempo que há da curta idade
Não basta para havermos a verdade.
Melhor sob ramos múrmuro ser bêbado
Num sono de que o sono é só metade.
Ciência pesa, consciência dessossega.
A arte é manca, a fé longínqua e cega.
A vida tem de ser vivida, e é inútil.
Bebe, que a caravana nunca chega.
Quantas fés, ou por bêbado ou por poeta,
Criei, na minha solidão completa!
Hoje não tenho fé, nem descrença.
De que fé nova é este tédio a seta?
(...)
4.10.1932
Fernando Pessoa
Canções de Beber
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