No impudor pagão da natureza
E no roxo de todas as olaias,
Nas espumas das águas da represa
Ou nas areias líricas das praias,
Sente-se a vida a palpitar fremente
Cantando no lugar da cotovia,
Na carne fecundada da semente
Ou no perfume duma flor bravia.
São vassalos da vida o Sol e o vento
E a luz purinha e branca do luar
E o ruído confuso e desatento
Do dia mal desperto a começar.
Nos zumbidos cantados das abelhas
Ou no grito monótono das râs,
Lateja a vida em fúlgidas centelhas
Ao dar à luz o corpo das manhãs.
E na aventura fútil das cigarras
Ou nas almas vibrantes dos poetas,
E no clamor de todas as fanfarras
Ou nas asas de Sol das borboletas,
Ergue-se ao alto a vida! E vede, vede,
A maldade sem nome que a consome
Dando-nos água para termos sede,
Dando-nos trigo para termos fome!
José Carlos Ary dos Santos
Obra Poética
Edições Avante. 4.ª edição. 1997
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