segunda-feira, março 21, 2011

Dia da Poesia

Aquecimento Global

Vinde a mim
Prados do fim do mundo
Quanto tempo terei ainda para vos pastar?
Era verde
A erva que agora vos amarelece
Mirrais sob o vento sulfúrico
Andam-vos por cima as aves desorientadas
Nem sois figura nem fundo
Vinde a mimBosques em agonia
Quanto tempo sereis ainda a minha clorofila?
morreis agora mais rápido que as aldeias
Sepultando na lama insectos teratológicos
Olha, filho, o prado que seca
Olha o bosque que amarelece
Desiste, pois, de colher tangerinas
E cinge-te aos pedregosos leitos falecidos
Não temas: são as novas cores do universo
Prepara-te para a grande festa
E vem brindar ao aquecimento global
Às turbulências, aos ciclonesao efeito-estufa em espiral
São belas, as novas vestes da princesa
Não vês como ainda respiro?
Plano nas cinzas de tudo quanto acontece
sou um transgénico em passeio no pinhal
venha o ronco telúrico ebulir o planeta
seque prados, arda bosques
ponha estios nos Invernos
ponha pólos no equador
que a mim
Nem me aquece nem me arrefece
João Habitualmente
Anjos Caídos
Neste palco de sol,
de repente:
os teus lábios:
anjos caídos mas abençoando

Cada curva e tremura
dentro do nervo exacto
da memória

Por esses lábios
eu faria tudo:
rasgava-me de sangue
e inocência,
partia com as mãos vitrais
e estrelas,
desintegrava o sol

Já não anjos caídosos teus lábios,
mas deuses transportados
pelos meus
Ana Luísa Amaral

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