quinta-feira, abril 07, 2011

ABRIL


À Beleza

Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.

Não tens preço na terra dos humanos,

Nem o tempo te rói.

És a essência dos anos,

O que vem e o que foi.


És a carne dos deuses,

O sorriso das pedras,

E a candura do instinto.

És aquele alimento

De quem, farto de pão, anda faminto.


És a graça da vida em toda a parte,

Ou em arte,

Ou em simples verdade.

És o cravo vermelho,

Ou a moça no espelho,

Que depois de te ver se persuade.


És um verso perfeito

Que traz consigo a força do que diz.

És o jeito

Que tem, antes de mestre, o aprendiz.


És a beleza, enfim. És o teu nome.

Um milagre, uma luz, uma harmonia,

Uma linha sem traço...

Mas sem corpo, sem pátria e sem família,

Tudo repousa em paz no teu regaço.


Miguel Torga

Odes

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