
"Pela tarde entrei no Aljube, comecei a subir as escadas acompanhado de um guarda, um outro, no patamar do 1.º andar, disse que não era para cima mas para ali. Desci alguns degraus e fui conduzido a um corredor onde havia uma parede longa com uma série de portas, metro a metro. Claro que os guardas tinham ordens para me meter ali. Aberta uma das portas, deparei com outra porta e a seguir um buraco, nele um catre, coberto com uma serapilheira e duas mantas. Ao lado um escarrador sobre uma "banqueta" e um púcaro de alumínio para a água. O buraco não tinha luz. Esta vinha da parte exterior quando se abria a porta, o que acontecia para ir à retrete ou quando se almoçava ou jantava. Os gavetões, como são conhecidos, dão uma angustiosa sensação de asfixia e desespero.
Dos outros, de dezenas de gavetões, vinha uma contínua notícia pela tosse, noite e dia, de outros presos e os contínuos toques da campainha, de outras vítimas. A sensação de afronta humana é perfeitamente conseguida."
Arlindo Vicente
Carta endereçada ao juiz corregedor do 1.º Juízo Criminal de Lisboa,
em 1 de Fevereiro de 1962 quando se encontrava preso no Reduto Norte do Forte de Caxias
Em: Aljube A Voz das Vítimas Antiga Cadeia do Aljube Exposição de 14 de Abril a 5 de Outubro de 2011 Todos os dias, das 10 às 18 horas, exepto às 2ª-feiras
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