sábado, setembro 09, 2006

Poema

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto atua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny, Pena Capital (1999).
Lisboa: Assírio & Alvim.

1 comentário:

Anónimo disse...

Acabei de espreitar o teu excelente blog e deliciei-me com a música e tão bela poesia. Consegues transmitir, nessa janela que abres aos outros, a qualidade que retratas sempre. És mesmo pessoa da 4ª vaga!...
Vês como tenho razão em dizer que te admiro? Eu não tenho blog...
Em jeito de retribuição, ofereço-te Sophia de Mello Breyner Andresen, in O búzio de Cós, Editorial Caminho, 1997:

"O Poema e a Casa"
Paramos devagar entre paredes brancas
Entre mobílias escuras e as janelas verdes
Um longo instante paramos em frente
Das mil luzes e mil estátuas do poente

Beijinhos
Lurdes S.